No dia 20 de junho de 2024, começou oficialmente a estação mais fria do ano no Brasil. E, apesar de os cafeicultores estarem trabalhando no momento mais aguardado do ano, com as atenções voltadas para a colheita e os processos de qualidade da bebida, eles têm um desafio extra: cuidar das lavouras em meio ao clima seco e às temperaturas baixas. Mas quais são os desafios que vem junto ao inverno?
Embora o tempo seco ajude na colheita, o frio e o risco de geadas trazem novas preocupações. No Brasil, a geada que aconteceu em junho de 2021 deixou um marco na história do café, e também por isso a chegada do inverno faz com que os produtores busquem por mais soluções e torçam para que o frio seja menos intenso. Então, como os cafeicultores podem se preparar?
Dormência e preparação para o futuro
Durante o inverno, o café entra em um período de “dormência”, essencial para a recuperação e preparação da planta para os próximos ciclos de crescimento. Esse período é crucial para a saúde geral do cafeeiro, pois permite que a planta recupere suas energias e se prepare para a próxima estação de crescimento. A dormência é marcada pela desaceleração do metabolismo da planta e pela diminuição da atividade vegetativa, criando uma fase de descanso até que as chuvas retornem em setembro, momento em que a planta retoma seu vigor.
Um planejamento organizado de manejo e colheita durante o período de dormência é essencial para minimizar o estresse das lavouras e proteger as plantações. O objetivo é não apenas garantir uma safra atual de alta qualidade, mas também assegurar que as plantas estejam em boas condições para o próximo ano de produção.
Esse manejo inclui ajustar as práticas de poda e limpeza das lavouras, realizar uma seleção cuidadosa dos frutos maduros, e garantir um manejo delicado para evitar danos às plantas e assegurar a qualidade dos grãos. Além disso, a manutenção do solo é essencial para otimizar a absorção de nutrientes e a retenção de umidade. E também ocorre a implementação das aplicações necessárias de defensivos agrícolas e fertilizantes de forma estratégica, de acordo com as necessidades específicas da planta durante o inverno.
Cuidados na lavoura pós-colheita
Após a colheita, é essencial que o produtor faça a implementação dos tratamentos corretos para prevenir doenças. Muitas vezes, isso envolve o uso de produtos como fungicidas e cobre ou uma combinação deles. Para as áreas que não estão sendo colhidas, como as que foram podadas, o foco é na prevenção de doenças fúngicas e bacterianas. Durante o inverno, é crucial estar de olho em problemas como Phoma e Antracnose, que podem atacar as plantas.
A Phoma é um problema já conhecido do cafeicultor brasileiro, que consegue identificar o problema através do ataque nas folhas, frutos e ramos da planta de café. As temperaturas mais baixas, de até 20ºC favorecem a incidência da doença, por isso que o cuidado durante o período de inverno é crucial.
Já no caso da Antracnose, o cafeicultor também precisa estar muito atento já que muitas vezes o problema pode aparecer de forma silenciosa. Assim como a Phoma, a doença também se estabelece nas folhas, ramos, frutos e folhas do café. A doença favorece a mudança da coloração das folhas, nos frutos compromete todo o interior e em época da florada, o abortamento das flores.
Em um país com dimensões cafeeiras como o Brasil, a melhor orientação é que avaliação técnica com um profissional de confiança seja realizada para saber qual tratamento mais adequado para cada região.
Preocupações com o clima
Mas não é só o trabalho no campo que preocupa. As condições climáticas são um grande desafio. O frio e a possibilidade de geadas tiram o sono dos produtores. E com o possível retorno do fenômeno La Niña, o setor está ainda mais atento aos possíveis impactos.
Desde o começo de 2024, o setor produtivo monitora a possibilidade do retorno do La Niña, que tem como característica clássica o favorecimento de temperaturas mais baixas, redução das chuvas no Sul e aumento da precipitação no Norte do Brasil.
A previsão mais recente da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), divulgada em junho, indica uma chance de 65% de La Niña se desenvolver entre julho e setembro. Isso significa que o produtor precisa estar mais
atento do que nunca às previsões climáticas para tomar as melhores decisões no dia a dia. Através do nosso Instagram, por exemplo, é possível acompanhar previsões climáticas semanais pelos vídeos da série Clima Café, que vai ao ar às terças e quintas. Clique aqui para saber mais.
Com as atualizações, o desafio agora é acompanhar de perto se o La Niña vai alterar o retorno das chuvas, como aconteceu nos últimos anos. A boa notícia é que, com a tecnologia atual, os produtores podem se preparar melhor, monitorando o clima diariamente para garantir que estão sempre um passo à frente.