O clima apresenta desafios significativos para os cafeicultores brasileiros. Veja as previsões meteorológicas para os próximos meses e seu impacto na produção de café no Brasil, com o posicionamento de Ruibran dos Reis.
A cafeicultura brasileira tem enfrentado desafios significativos devido às condições climáticas. Nos últimos cinco anos, geadas devastadoras atingiram diversas regiões produtoras, com destaque para o Sul de Minas. No entanto, não são apenas as geadas que impactam a produção; o calor excessivo, a escassez de chuvas em momentos cruciais e o excesso de precipitações no inverno interferem nas lavouras.
A atenção dos cafeicultores é essencial para mitigar os efeitos climáticos. Previsões meteorológicas confiáveis podem ser verdadeiras aliadas para aqueles que dependem da natureza durante todo o ano. Para esclarecer os fatores climáticos, contamos com a expertise de Ruibran dos Reis, professor, pesquisador, meteorologista e produtor de café na região das Matas de Minas.
“A cafeicultura é muito dependente do clima” – começa Ruibran, que em uma comparação simples, nos trouxe uma reflexão: “imagine que o ano todo, nosso produto, fica exposto à céu aberto. O produtor depende do tempo, se vai estar sol, se vai chover, tudo”, finaliza.
Análise do Primeiro Semestre de 2023
Os primeiros seis meses de 2023 trouxeram aspectos positivos para a cafeicultura na região Sudeste e no sul da Bahia. De acordo com Ruibran dos Reis, a distribuição das chuvas foi favorável. “A redução das precipitações aconteceu em março, devido ao La Niña, que começou a ocorrer em 2020 e trouxe muitas chuvas para nós. Ano passado as chuvas atrasaram, começaram em outubro. Isso impactou a florada e, consequentemente, a produção”.
Transição de La Niña para El Niño
Nos últimos 3 anos, o fenômeno La Niña estava atuando, isto é, a temperatura da água do mar na Costa do Peru e do Equador ficaram abaixo da média. Portanto, as massas de ar polar chegaram com mais facilidade até a região Sudeste e as chuvas ficaram acima da média. De março para cá houve uma mudança de fase de La Niña para El Niño. Normalmente, em anos de El Niño, o inverno não é tão rigoroso na região Sudeste e ondas de calor ocorrem no final do inverno e início da primavera. O período chuvoso atrasa, começando no mês de novembro.
Para o café arábica é bom que os meses de junho, julho e agosto não chova, para que a planta receba água em setembro e siga para a florada. Mas, devido ao clima e uma rápida frente fria que trouxe um pouco de chuva em algumas regiões, os produtores se depararam com um início de florada antecipada em 2023.
“Em 2018, tivemos muita chuva em agosto, e isso prejudicou a produção de 2019 e trouxe problemas como a broca-do-café. Ou seja, nessa época é importante que não chova, para evitar essas floradas antecipadas, que podem impactar na quantidade de frutos”, explica Ruibran.
Previsões para os Próximos Meses
Setembro e outubro devem trazer chuvas oportunas para Minas Gerais. Em novembro, as chuvas serão significativas em São Paulo, nas regiões da Mogiana e Garça. Entretanto, dezembro trará uma diminuição das precipitações, e a atenção se volta para janeiro e fevereiro. Durante esses meses, os efeitos do El Niño serão sentidos com a falta de chuvas e a presença de veranicos, períodos sem chuva no verão, acompanhados de temperaturas mais altas. Reforçando que estas são apenas previsões.
É importante lembrar que a cafeicultura irrigada ainda não é expressiva em regiões montanhosas como o Sul de Minas e as Matas de Minas. Assim, estratégias de manejo e correções de solo são importantes para aproveitar as chuvas no final de 2023. Com tantos fatores em jogo, monitorar pragas, doenças e condições do solo é essencial para atenuar os impactos.
A cafeicultura tem sido impactada pelas mudanças climáticas, que por sua vez trazem variabilidades climáticas, que são os extremos, como explica o profissional: “chove muito, depois estiagem longa, não há meio termo. As temperaturas estão oscilando muito e a previsão é de recordes para o fim do inverno e início da primavera, detalha Ruibran.
Os desafios de 2024 já estão se delineando. Estar atualizado sobre as previsões é um dos caminhos para se preparar para os efeitos do clima e tomar decisões assertivas a respeito da lavoura.