A cafeicultura é uma atividade sensível às variações climáticas, e a chuva desempenha um papel fundamental no seu desenvolvimento. Seu impacto na produção de café é profundo e abrange várias etapas, desde o plantio até a colheita. Vamos explorar como as chuvas podem ser benéficas ou prejudiciais para a cafeicultura, com base nas condições de 2023 no Brasil.
Seca vs. Excesso
Períodos de seca intensa podem afetar negativamente o cafezal de várias maneiras. A falta de chuva resulta em baixo crescimento dos ramos, amarelamento e queda das folhas e diminuição do vigor da planta, esses sao alguns dos fatores que prejudicam a floração e a formação dos frutos e consequentemente afeta a produção. A escassez de água é uma constante preocupação para os produtores de café, e estratégias de manejo e irrigação são fundamentais para mitigar os efeitos prejudiciais da seca.
Por outro lado, o excesso de chuva também traz consigo uma série de desafios. Quando o início da florada coincide com um período de chuva intensa e contínua, os botões florais tendem a permanecer em repouso por mais tempo do que o normal. Isso retarda a abertura das flores, e em muitos casos, os botões acabam caindo antes de se abrirem, ou as flores podem apresentar deformidades, resultando em grãos malformados.
Além disso, o excesso de umidade no solo dificulta a realização dos tratos culturais e o controle de doenças, como a ferrugem, devido à complexidade de realizar pulverizações eficazes. Doenças como o mal rosado e a roseliniose também podem se proliferar devido ao excesso de umidade no solo.
Florada 2023 no Brasil
Como já abordado neste artigo, a florada é um momento crítico na cafeicultura. Sem chuvas adequadas, há um pegamento deficiente dos frutos. Em 2023, o Brasil recebeu volume significativo de chuvas em julho e agosto, antecipando a florada. No entanto, após essa fase, é fundamental que haja um período de estiagem entre a florada e o aparecimento de chumbinhos (pequenos grãos) para que a planta se recupere e os frutos se desenvolvam de maneira saudável. Mais uma vez, este foi o caso do Brasil, quando houve um período de pouco ou zero chuva em setembro em determinadas regiões cafeeiras, logo após as chuvas significativas dos meses anteriores. O desafio, no entanto, foi o efeito do El Niño, que trouxe uma onda de calor, causando estresse nas plantas devido à alta radiação solar.
Desenvolvimento dos Grãos: O Papel Crucial das Chuvas
Após a florada, a fase do desenvolvimento dos grãos é crítica para a qualidade do café. Isso ocorre ao longo de meses, com um destaque especial para janeiro. Nesse período, chuvas significativas são essenciais para que os grãos aumentem de tamanho, favorecendo os grãos em termos de peneira.
Por outro lado, chuvas em excesso podem atrapalhar: ressalta-se, que as plantas de café são altamente sensíveis a deficiência de oxigênio, ou seja, demandam de solos bem drenados. Portanto, as chuvas em excesso fazem com que os espaços do solo a serem ocupados pelo oxigênio sejam preenchidos por água, portanto, pode haver uma deficiência de oxigênio para as raízes que, dependendo do tipo de solo, ocasiona um déficit de energia para a planta. Esse déficit de energia acarreta problemas de crescimento dos ramos e de enchimento de frutos, com prejuízos em termo de peneira.
Já no período de colheita, grandes volumes de chuva podem fazer os cafés caíram e fermentaram ao entrar em contato com a terra prejudicando a qualidade da bebida.
Finalmente, existem os problemas logísticos. As estradas podem ficar muito danificadas pelas chuvas, principalmente em regiões com relevo acidentado como nas Matas de Minas.
Chuvas: Aliadas ou Inimigas?
Em resumo, as chuvas desempenham um papel fundamental na cafeicultura, mas seu impacto pode variar de acordo com o volume e a época em que ocorrem. Chuvas bem distribuídas e no momento certo podem trazer benefícios significativos, impulsionando uma produção saudável de café. No entanto, condições climáticas extremas, como ondas de calor associadas ao El Niño, podem causar desafios imprevistos.
Portanto, os produtores de café estão constantemente atentos às condições climáticas e buscam estratégias para mitigar os riscos associados às chuvas. A gestão cuidadosa da água e a compreensão das nuances climáticas são essenciais para garantir a produção de café de alta qualidade em meio a um ambiente tão dinâmico.
Leia mais:
Projeto Mutua: Resultados do Primeiro Grupo de Cafeicultores
Veja os resultados do primeiro grupo de cafeicultores do Projeto Mutua-Matas e Nascentes, uma iniciativa da Atlantica Coffee para impulsionar a sustentabilidade e a cafeicultura de impacto positivo… Leia Mais
Cafeicultura e Clima: Desafios dos Produtores Brasileiros nos Próximos Meses
Veja as previsões meteorológicas para os próximos meses e seu impacto na produção de café no Brasil, com o posicionamento de Ruibran dos Reis… Leia Mais
*Este artigo tem como único objetivo fornecer informações de fontes internas e públicas, válidas na data de sua divulgação. Não tem como finalidade orientar os destinatários a tomada de qualquer decisão, sendo estas, portanto, de exclusiva responsabilidade do Espectador. Fica o Grupo Montesanto Tavares eximida de qualquer responsabilidade advinda de prejuízos diretos ou indiretos.